Conforme divulgamos ontem, 10.09, pela rede Facebook, faleceu em 10.09.2017, Gilberto Morosini, sócio fundador e primeiro presidente de nossa entidade. A noticia causou consternação a Direção e associados de nossa entidade e chegou no momento em que os membros da direção e delegados retornavam do CONOJAF realizado em São Paulo.
Morosini sempre foi um lutador em prol dos direitos da categoria que o respeitava e que muito deve a ele.
Nossos sentimentos aos familiares e amigos de Morosini.
Leia abaixo depoimento de Morosini prestados há alguns anos perante nossa assessoria de comunicação.
“Com 15 anos eu me sentia rico”.
Nascido em Torres, no inicio de janeiro, mais precisamente no 16º dia de 1938, Gilberto João Morosini, era filho de um coletor estadual. Pela profissão do pai, deixou com dois anos de idade sua terra natal, tendo Julio de Castilhos, no centro do estado, como destino. A derradeira troca de endereço da família veio anos mais tarde, em 1946, quando Morosini mudou-se para Porto Alegre, desde então, fixou raízes na capital gaúcha. Gilberto, recorda que fizeram a viagem de trem e chegaram à noite a nova residência, ainda menino, ele lembra que na manhã seguinte correu para fora da casa esperando ver cavalos e carroças. Decepcionou-se ao constatar que na capital, veículos de tração animal não eram mais o principal meio de transporte.
Emocionado, Gilberto também relembra a morte precoce do pai, deixando onze filhos a cargo da mãe, “foi uma infância difícil, os irmãos que já trabalhavam tinham a obrigação de ajudar com as despesas de casa”. Segundo o oficial aposentado, aos 15 anos começou a trabalhar em uma empresa que revendia óleo para motores, e seu salário pagava o armazém, onde era feito o rancho da casa e a conta da loja onde compravam roupas. Ele dava também um dinheiro para a mãe, comprava presentes para as irmãs e ficava com uma parte para ele. “Com 15 anos eu me sentia rico” conta Gilberto, em meio a risadas que preenchem a sala onde a entrevista é feita.
Antes de se tornar Oficial de Justiça, Morosini exerceu o cargo de Mídia, na Norton Publicis, famosa agência de propaganda brasileira, também foi chefe de transportes no Sandu, equivalente ao que conhecemos hoje como SAMU. Durante esse período cursou a faculdade de direito na Unisinos.
Já em 1968 foi nomeado e tomou posse como Oficial de Justiça na 2ª Vara da Justiça Federal, “nesta época a JF foi criada e nosso primeiro trabalho foi organizar processos vindos da Justiça Estadual. Lembro como se fosse hoje de caminhões e mais caminhões de processos chegando, e nós tendo que organizar e colocar no sistema um por um”. Conta Morosini.
Primeiro presidente e fundador da ASSOJUFE-RS, hoje ASSOJAF/RS, Gilberto afirma que foram necessárias três reuniões para fundar a associação, em novembro de 1987. Ele mesmo foi até os colegas da Justiça do Trabalho e da Justiça Militar propor a criação de uma instituição que unisse a classe para batalhar por seus direitos e reivindicações.
Dentre as principais causas encabeçadas por Morosini, já através da ASSOJAF/RS, pode-se ressaltar o risco de vida e a transformação do cargo de Oficial de Justiça para Oficial de Justiça Avaliador Federal.
Gilberto conta que na época foi a Brasília tentar uma reunião com o então Ministro, Delfim Neto. Ao chegar lá, recebeu a informação que o Ministro só teria uma brecha na agenda dali a três ou quatro meses. Morosini desceu para frente do prédio e viu os carros oficias, foi aí que se lembrou dos tempos de chefia dos motoristas do Sandu e resolveu ir conversar com o motorista do Ministro. “Expus meu caso a ele (o motorista) e ele ficou de conversar com o Delfim. Ficamos acertados de eu esperar na frente do ministério às 13:45, se o motorista me acenasse, Delfim Neto iria me receber, se não acenasse, nada feito.” Gilberto conta ainda que estava em frente ao ministério desde às 12:15 e quando a comitiva de carros pretos apontou, já era passado das 14 horas. Mas deu tudo certo, o motorista acenou e a poucos passos de distância Delfim perguntou: – Quem é o Morosini? Gilberto conta com satisfação que Delfim passou a mão sob sobre seu ombro e subiram até seu gabinete, aonde conversaram sob a reativação da comissão sobre as dívidas ativas cobradas pelos Oficiais de Justiça. “Estava tudo certo, mas então os Técnicos de Justiça de Brasília entraram com processo e anularam o requerimento” relembra o Oficial aposentado.
Morosini, que já está aposentado desde 1990, faz um apelo para que todos lutem pelo risco de vida, “Isso não pode ficar estagnado, o Oficial de Justiça cumpre diligências solitariamente nos piores lugares, diferente da polícia que vai aos mesmos lugares com todo seu aparato e contingente.”